sábado, 10 de maio de 2014

Olá, olá!! Como estão meus poucos, porém fiéis, leitores? Eu tinha o objetivo de ler um livro por mês esse ano, por isto, seria fácil manter certa regularidade aqui no blog  (descumprir promessas de ano novo, quem nunca?)... Acontece que, além da vida de recém formada e pós graduanda me tomar muito tempo, agarrei num livro desde o Carnaval, simplesmente travei, não consigo terminá-lo! Para piorar, tenho um problema sério que não me permite começar um livro sem terminar outro (aka TOC)!  Então, aproveitarei este canal para escrever sobre o que eu bem entender e hoje - super na moda - farei um protesto inócuo, porém sincero! Nos finais de semana  minha família quase sempre almoça fora e, como a Lei seca e a preguiça reinam, normalmente optamos por lugares perto o suficiente para ir a pé. Hoje fomos ao Pizzarela e pedimos o de sempre, arroz sujo com filé e fritas! Tudo transcorreu normalmente, o garçom chegou, serviu nossos pratos, nós comemos! Só que, quando já tínhamos acabado de comer e ainda sobrava arroz sujo e fritas o suficiente para trazermos para o jantar, reparei que no canto do prato, onde eles enfeitam com alface e tomate (que desde pequena minha mãe não me deixa comer) havia um resto de purê e as verduras tinham um aspecto terrível, completamente queimadas! Todos chegamos à mesma conclusão: aproveitaram um prato servido em outra mesa, para montar o nosso!!! Absurdo, nojento!! (para quem não é de BH, a casa é uma das pizzarias mais tradicionais de BH e não é barata) Chamamos o gerente e ele veio com uma conversa fiada, falando que no Pizzarela nada é reaproveitado, que era impossível aquele prato ter servido outra mesa e blá, blá, blá!... nos demos o trabalho de argumentar, “nosso prato não tem purê”, “a alface está totalmente queimada”, “o tomate certamente está velho” e ele insistia na tese de que o purê brotou ali (chegou a admitir que talvez tivessem usado a mesma colher para servir dois pratos) e as verduras estavam queimadas devido à temperatura da carne (só que nós vimos quando o prato chegou e a carne estava do outro lado). E assim ele se foi, sem sequer pedir desculpas... o garçom, percebendo a situação, veio e - de forma MUITO mais diligente e sincera que o gerente -, tentou resolver o problema, pediu desculpas, argumentou que não é comum isto acontecer na casa, pediu que não deixássemos de ir lá!... Mas, ele não tem autonomia para fazer nada além disto! Não tivemos coragem de pedir para embalar (embora o tom tenha se mantido educado, nunca se sabe o que farão com seu prato depois desta situação), pedimos a conta, pagamos o valor integral e fomos embora, insatisfeitos e com a promessa interna de não voltar lá! Antes de sairmos, o pessoal da mesa ao lado ainda se manifestou, compraram a nossa briga e talvez eles também não voltem lá!... Aproveitando o ensejo, reclamo do banheiro do local, estava sujo e não tinha papel nas cabines! Finalmente, confesso que voltei para casa me sentindo impotente, não soubemos lidar com a situação! O que você, como consumidor, faria? Acha que essas coisas são normais? Amargaria o nojo e o prejuízo, como nós? Ou iria mais além? Para encerrar, como exemplo de uma casa preocupada com os consumidores e que resolveu um problema divinamente, conto uma situação que vivi no Sorriso, risoteria famosa daqui. Um dia fomos até lá, um grande amigo (alô Brenildo) e eu. Vinho vai, vinho vem, pedi um risoto de carne seca com ora - pro - nobis (estava encantada, nunca vejo a folha nos cardápios por aí) e o Breno pediu algum outro prato que não lembro. Quando os pratos chegaram, estavam lindos e deliciosos, mas, no meu, não tinha ora - pro - nobis e sim couve! Fiquei frustrada porque realmente o escolhi porque sou apaixonada pela folha que em Coluna chamam de “carne de pobre”. Chamei o garçom, que chamou o gerente, que pediu desculpas e me ofereceu uma sobremesa (serviram um pudim lindo, pena que eu não gosto de pudim, mas o  Breno amou! rsrsrsrs) Quando veio a conta, cobraram o valor integral, mas, me ofereceram um Voucher para que eu experimentasse o risoto com os ingredientes corretos da próxima vez! Saí de lá super satisfeita e vivo indicando a casa para todo mundo (e indicação de gordinha, todo mundo sabe, vale muito!).  

sexta-feira, 18 de abril de 2014




Inté! 




A recente pesquisa do IPEA que afirmou que a maior parte dos brasileiros acha que a mulher que mostra o corpo merece ser estuprada[1] chocou grande parte da população, a mim, nem um pouco!

Explico.

Há muito tempo (acho que desde que eu comecei a pensar sozinha) eu me interesso por questões sobre o desenvolvimento e liberdade sexual das pessoas, na faculdade minha monografia foi sobre o sofrimento das vítimas de violência sexual no processo penal, leio tudo o que posso sobre o assunto, converso com as mais diferentes pessoas sobre liberdade sexual e compartilho o sofrimento de uma grande amiga que foi estuprada (e de outras tantas que já me confessaram ter sofrido algum tipo de abuso sexual na infância - grande parte dessas amigas apenas se deram conta da violência muitos anos depois).
Por isto que o resultado - da forma como publicado inicialmente - não me impressiona nem um pouquinho, pelo contrário, eu diria que o número de pessoas que concorda com a afirmação é pequeno, se comparado à minha percepção. Há muito venho afirmando que vivemos uma “cultura do estupro”, as pessoas involuntariamente invertem os papéis dos atores desse crime terrível e culpam a vítima/a situação/a natureza masculina, tudo isto é uma forma de diminuir a lesão e de “desculpar” o estupro.
 Incontáveis vezes escutei a frase “depois é estuprada e não sabe por que” quando uma mulher se comporta de forma mais sensual, usa roupas curtas, anda a noite sozinha ou expressa livremente seus desejos.
Quando estudava para minha monografia vi inúmeros julgados (em vários tribunais do país) de casos de estupro em que os magistrados se confundiram e julgaram não o réu, mas a vítima. É comum ver sentenças/acórdãos absolvendo o estuprador sob as justificativas: “foi ao motel”, “a negativa fazia parte de um jogo de sedução”, “ela estava de roupas curtas”, “tinha comportamento sensual”, “mantiveram relações anteriores consentidas”, “era prostituta”, “não houve negativa contundente”.[2]
O programa Big Brother exibiu em rede nacional um suposto estupro[3] e não tenho notícia de nenhuma providência ter sido tomada, pelo contrário, o que vi foi o apedrejamento da vítima, que, afinal de contas, bebeu voluntariamente e foi para cama voluntariamente com o sujeito, inclusive, a própria vítima acabou se culpando (entrevista com ela no rodapé) e “assumiu” que ela o provocou.
E até o STJ absolveu acusado de estuprar meninas menores de 14 anos uma delas com 12 (DOZE) anos porque as coitadas se prostituíam há “longa” data (puts, isso deve significar que desde os sete/oito anos as meninas eram prostituídas e o STJ acha que isto é normal/voluntário)[4]. Na minha opinião isto implica em incentivar a prostituição infantil, o turismo sexual, o abuso, afinal, as meninas recebem por isto. NÃO!!! Não pode ser assim, a infância, a inocência e a liberdade sexual não são produtos comercializáveis!
E digo mais, sou absolutamente irredutível no sentido de que, em QUALQUER hipótese um adulto praticar sexo ou atos libidinosos com uma criança é crime. O consentimento é impossível, crianças não têm capacidade de avaliar os riscos, de mensurar o desejo e são excelentes em imitar o comportamento adulto! - principalmente as meninas crescem imitando mulheres, sem que isto signifique que tenham alguma noção do que estão fazendo.
Mas, na nossa cultura do estupro, o crime só é aceito se a pessoa for a vítima perfeita, a virgem, casta, tímida, que não bebe, é comportada, discreta e que um dia foi surpreendida na rua por um tarado cruel, violento, forte e armado que abusou de sua fragilidade! E vejam bem, mesmo este cenário sendo minoria absoluta, também esta vitima tem que denunciar o crime imediatamente porque se sentir vergonha/medo/culpa/estiver mal demais para procurar as autoridades/não quiser reviver o crime no processo/quiser evitar a exposição (...) e demorar um pouquinho para denunciar o crime, “deve ser porque gostou de ser estuprada”.
Essa semana me deparei com o resumo da novela “Em Família” em uma revista e confirmei neste site: http://emfamilianovela.com/laerte-transa-luiza-forca/. Não assisto novela, por isto não sei dizer se este episódio foi ao ar mas descobri que o resumo foi publicado com igual conteúdo em outras mídias.
Este trecho em especial me impressiona: “Luiza não gosta da atitude e diz que o músico está louco, quando tenta fugir ele a chama pelo nome da mãe e rasga a sua roupa obrigando a jovem a fazer sexo com ele. A história se repete como quando ele tira a virgindade de Helena com brutalidade. Luiza tenta escapar mas acaba cedendo aos encantos do primo”. É a Rede Globo minimizando a culpa do estuprador, é a maior formadora de opiniões do nosso país INCENTIVANDO o estupro.
Infelizmente é o machismo sendo repetido e reiterado na nossa sociedade, é a liberdade da mulher sempre limitada, é a cultura do “mulher foi feita para isto”, “é assim mesmo” e a constante animalização do homem que não consegue resistir aos seus impulsos sexuais.
Nossa sociedade, em todos os níveis, da televisão às pessoas mais próximas de mim, anula a mulher enquanto sujeito de desejos (sexuais ou não) e condena aquelas que manifestam seus desejos sexuais, apedreja a mulher que transa por prazer e culpa a que se nega a ser usada como objeto de prazer do outro (acha que não?! Então me diz que nunca ouviu/disse que “a mulher tem que satisfazer seu homem na cama para ele não procurar na rua o que não tem em casa”)
A verdade é que minimizamos e banalizamos o crime e a consequência disto é o sofrimento incurável de milhares de mulheres no mundo (não me passa despercebido o sofrimento de homens, mas escolhi abordar só a mulher por ser a vitima majoritária).  Uns exageram e chegam ao cúmulo do absurdo afirmando com todas as letras que “mulheres não são estupradas porque têm um mecanismo biológico para impedir relações sexuais não consentidas”[5], o famoso Rafinha Bastos faz piada sobre isto e as pessoas riem[6] e outros – a maioria apresentada pelo IPEA – repetem estas ideias sem refletir.
Mulher não pode ter desejo, tem que ser casta e inocente e, se der um vacilo, já era! Estão ai as “Frans” para não me deixarem mentir.  Recentemente uma mulher próxima (não vou mencionar detalhes para não dar ibope ao caso) teve uma “selfie” em que um pedaço de seu seio aparece exposta nas redes sociais. MUITOS conhecidos (e amigos, meus e dela, infelizmente) contribuíram para veiculação das fotos, inclusive em grupos de whatssap, sempre acompanhada do julgamento moral desta mulher que deixou aparecer um pedaço do seio, tudo isto contribui para a anulação feminina e fomenta a cultura do estupro!
Encerro meu texto com uma frase que publiquei no facebook recentemente num momento de desabafo (e recebi várias críticas por isto): “Em tempos de #eunãomereçoserestuprada, as mesmas pessoas aplaudem o caso do professor de jiu-jitsu estuprado por 20 homens na cadeia!” e convido meus leitores a refletirem um pouco mais sobre o que estão falando/reproduzindo. NÃO HÁ DESCULPA PARA O ESTUPRO! 


[1] Posteriormente a enorme repercussão, estranhamente este resultado foi retificado  para afirmar que, na verdade, 70% discorda desta afirmação – não encontrei nenhuma explicação sobre os erros na pesquisa.
[2] Juro que vários julgados absolvem o réu sob esta alegação não basta negar, se debater, a vítima tem que morrer tentando se defender da violência sexual para que o réu entenda que ela não quer, ainda que várias vítimas relatem que diante da impossibilidade de impedir o ato acabem cedendo para “acabar logo com aquilo”.
[3] O participante Daniel, aparentemente manteve relações sexuais com a participante Monique enquanto ela estava em estado de profunda embriaguez. http://ego.globo.com/famosos/noticia/2012/03/tudo-o-que-aconteceu-foi-de-comum-acordo-diz-monique-sobre-suposto-estupro.html
[4] Na época vigia o hoje revogado artigo 224, do Código Penal “ Presume-se a violência se a vítima: a) não é maior de  quatorze anos (...). Mas o STJ, sob relatoria da Ministra Maria Thereza Assis de Moura entendeu que a presunção era relativa e que o fato de as meninas serem prostitutas a afastava.
Hoje (desde 2009), felizmente ter conjunção carnal ou praticar outros atos libidinosos com menor de 14 anos é crime em qualquer hipótese, art. 217, A. Ainda assim os Tribunais insistem em não aplicar a Lei.
[5] http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/08/120820_estupro_deputado_ru.shtml
[6] A piada, em rodapé porque tenho vergonha de deixar isto no corpo do meu texto: “Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia... Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso não merece cadeia, merece um abraço. “
A fonte: http://entretenimento.r7.com/famosos-e-tv/noticias/rafinha-bastos-faz-piada-de-mau-gosto-sobre-estupro-20110508.html

domingo, 23 de março de 2014

O Tal do Direitos Humanos (sic)

Toda vez que alguma coisa ruim acontece, o ser humano corre para arrumar um culpado e essa necessidade é tão urgente que as pessoas não têm se preocupado sequer em apontar o dedo para o verdadeiro vilão, basta ser rápido, nomear o responsável e pronto, problema resolvido!
O culpado da vez, principalmente depois do famoso e venerado “Tropa de Elite”, é o tal do Direitos Humanos.

Esse “ser” personificado e tiranizado é posto na berlinda, pedem-lhe a cabeça sempre que nos deparamos com uma situação de impunidade, criminalidade ou descontentamento com a aplicação da lei.

Mas, para criticar é preciso refletir, é feio e pouco inteligente repetir ideias banalizadas sem uma reflexão anterior, afinal, embora eu desconfie de uns e outros, até que se prove o contrário, não somos robôs!

“O que é o tal Direitos Humanos”? (escrito assim mesmo, com letras maiúsculas e no plural, embora tratado no singular).

Sem a intenção de encerrar o tema e sem pretensão de ser a dona da verdade, escrevi um pouco sobre o tema.

Os direitos humanos são um conjunto de direitos destinados a todas as pessoas que visam, principalmente, a assegurar as liberdades e direitos mais fundamentais para a dignidade do ser humano, são direitos tão essenciais que praticamente o mundo inteiro, ou seja, mentalidades e culturas muito diferentes, converge para eles. São o elo entre um código moral e código legal!

Se eu posso expressar livremente a minha opinião e até publicá-la, é porque, dentre meus direitos fundamentais está a liberdade de pensamento e de expressão, da mesma forma que eu posso fazer minhas opções religiosas e sou livre para guiar a minha vida.

Graças aos direitos humanos um processo é bem diferente  daquele do Kafka,  se um dia eu cometer um crime (ou acharem que eu cometi), eu terei assegurado o direito ao devido processo legal, com a garantia do contraditório e da ampla defesa (embora, na pratica, muita coisa ainda tenha de ser mudada).

Eu poderia gastar muitas páginas narrando outras coisas que só posso fazer se me forem assegurados os direitos humanos já que, de alguma forma, todos os direitos relacionados à saúde, educação, dignidade e liberdade estão ligados aos direitos humanos. Assim, seria lógico que todos concordassem com esses direitos e lutassem por eles.

O problema, além da padronização das opiniões, é que as pessoas estabelecem falsos paralelismos, os direitos devem ser garantidos a mim e a minha família, mas são lesivos se estendidos a todas as pessoas. Isso é um erro tremendo, é incoerente, injusto! Eu mesma faço muito isso e venho me policiando para ter coerência nos meus argumentos.

Por exemplo, por muitos anos eu repeti com orgulho que estuprador que vai para cadeia “vira mulherzinha” e demorei para ver o quanto isto é absurdo, o quanto eu estava errada de achar que isto é certo ou justo, sem falar do machismo nojento que a frase carrega.

Dois pesos e duas medidas? Ou eu defendo que as pessoas devem ter liberdade sexual ou não, ou é errado ou é certo estuprar alguém, nunca os dois!

Não é razoável o tal do “olho por olho, dente por dente” e muito menos razoável é que alguém seja estuprado pelo Estado e com chancela da sociedade, isto é tortura, é absurdo, é loucura!! Até onde eu saiba não há “pena de estupro” escrita em lugar nenhum no mundo, embora seja comum e aplaudida no Brasil.

E assim é com tudo, vejo pessoas defendendo fervorosamente a redução da maioridade penal, mas não pensam que, além de passar longe da resolução do problema, esta “solução” teria que ser estendida a TODOS os jovens. Assim, jovens de classe média que brigassem na escola, responderiam por LESÃO CORPORAL, quem levasse droga para o coleguinha, TRÁFICO, pegasse doces nas Lojas Americas, FURTO, o que trouxesse muitas coisas do exterior para vender, DESCAMINHO...! Ai não, né?

Nisto de repetir ideias sem prévia reflexão somos muito incoerentes! Quanto ao sistema penitenciário, por exemplo, no qual os Direitos Humanos tanto interferem (dando margem para inflamados e impensados discursos contra os DH),  vale uma pesquisa sobre eficácia reparadora e ressocializadora da pena, será que as penas que funcionam são aquelas em que há a correta aplicação dos Direitos Humanos ou essa desumanização que vemos nos nossos estabelecimentos prisionais? Como “vale a pena“?

Parece-me, que os problemas imputados aos DH, ironicamente, são consequência exatamente da sua não aplicação. Afinal, acho que todo mundo concorda que se tivesse educação, saúde, moradia, alimentação, transporte, higiene e lazer para todos, grande parte dos crimes que detestamos sequer existiriam, mas temos a mania de nos valer de paliativos aos invés de combater as origens dos problemas, acho que é para poder manter a reclamação em dia.

Posso estar muito enganada, mas, os tiranizados “direitos humanos” estão muito mais para solução do que para problema!



sábado, 15 de março de 2014

Bom dia!!!


Quem não ama ganhar livro?! Ainda mais autografado pelo autor?


Pensando nisto, o Carlos Herculano Lopes, ofereceu um exemplar do livro O Vestido, autografado por ele para que eu possa sortear aqui. 
Para participar é muito simples, basta colocar seu nome aqui nos comentários, seguido de contato para que eu possa te encontrar ou, como muitas pessoas reclamam que não conseguem comentar aqui, colocar o nome nos comentários do post idêntico no facebook, você pode marcar outra pessoa também para que ela participe! simples assim, não precisa curtir nem compartilhar nada! 
O sorteio ocorrerá até o próximo sábado e o presente será enviado por correio para o vencedor que, evidentemente, após ser sorteado deverá me informar o endereço para envio (de preferencia por inbox ou e-mail).


ALEA JACTA EST

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O VESTIDO

O Vestido (Carlos Herculano Lopes)

Antes de tudo, é lógico que tanto o livro quanto o poema são carregados de símbolos, de possibilidades de interpretação, de significados... e, claro, vou escrever minha opinião sobre a forma como EU interpretei algumas passagens que, como em qualquer livro, podem ser muito diferentes do que os autores pensaram, portanto, tio Carlinhos (Carlos Herculano Lopes, autor do livro), desculpa-me se eu falar besteira. 

Este é um livro fácil de ler, daqueles fáceis porque a leitura flui, é deliciosa, excitante e, mesmo sabendo exatamente o que vai acontecer (já que conhecemos o poema), ficamos loucos para saber COMO vai acontecer e é impossível não se envolver com a narrativa.No meu caso, eu sempre me identifico com personagens femininos, o que me aproxima ainda mais do texto.

Quem é mineiro logo reconhece o tom, a forma de falar, o jeitinho mineiro de contar um caso, de contar a passagem do tempo por elementos naturais “era inverno mas o pé de manga ainda estava carregado”, nunca se esquecendo de informar quem são os personagens, o que fazem, quem são seus amigos e inimigos, é quase possível ouvir o sotaque da personagem. 

Relendo o livro, lembrei-me da última vez que fui a Coluna/MG. Vi uma casinha à venda cuja placa dizia: "Vende-se. Motivo: pagar dívida com Seu Fulano", são coisas de Minas, são coisas nossas...

Há fortes traços da cultura mineira, do interior de Minas, especialmente nos “casos paralelos” que Ângela vai contando, os cenários que descreve (pode parecer lógico, já que a história se passa em Minas, mas Ângela é específica, define muito bem cada lugar, suas características, formas, o povo...), os costumes do povo... 

Acho interessante a forma como o autor conseguiu adentrar a mente feminina da personagem, fazendo com que conte, em primeira pessoa, sua história de amor e desamor. Chama atenção as opções da personagem: ela opta por uma narrativa objetiva dos fatos, mas sempre realçando para as filhas como foi amada (não só por Ulisses como também por Fausto) e como, no final das contas, tudo girava em torno de si e não de Bárbara. Ela também faz questão de realçar suas virtudes, que é mulher honesta, digna, leal, tradicional, de um homem só! 

Gosto do papel feminino no livro, os julgamentos feitos pela personagem sempre se referem ao comportamento público da outra mulher, à exposição pública da imagem, mas ela não julga o desejo da personagem,principalmente não julga o desejo sexual, não há uma “objetização” da mulher como vemos tanto na literatura ( e na vida), ela é e objeto mas é também sujeito de desejos. 

A personagem, em que pese ter uma visão patriarcal e machista, não expressa esta visão quando se refere a sexo, não há a transmissão da ideia de que “sexo é para homem”. Barbara tem “vontade de fazer amor”, a mãe de Ângela manteve relações sexuais adúlteras durante anos e a própria Ângela, embora apegada emocionalmente ao marido, quase sede ao prazer carnal com outro homem. 

Por outro lado, todo o fio da narrativa é carregado de machismo (como é natural, principalmente tendo em vista o local e a época), é o homem que decide como e quando as coisas serão feitas, a mulher baixa a cabeça, aceita a tudo sem discutir, espera o marido com a refeição pronta (e tenho a sensação que nem come ao mesmo tempo só para ficar disponível para servi-lo). 

Na primeira vez que li, fiquei horrorizada! como uma mulher poderia se humilhar perante outra, pedindo-lhe que dormisse com seu marido e, depois de sofrer, de ser trocada, humilhada, ficar desamparada, aceitar este homem “como se nada tivesse acontecido”. 

Achei o cúmulo da submissão, da anulação feminina no relacionamento!!!

Mas, tudo na vida tem, pelo menos dois lados e uma vez presenteei uma amiga com este livro, após ler, ela me revelou que a história muito se aproximava da de sua própria família, em que, o pai, um belo dia e sem qualquer motivo aparente, saiu “para comprar cigarros” e não voltou mais, deixando mulher e filhos crianças à própria sorte. 

Passados muitos anos, o pai voltou para casa muito doente e, embora a mãe tenha passado a vida inteira sonhando com isto, não conseguiu aceita-lo de volta e continua sofrendo até hoje, embora ele tenha morrido e eles já não possam resolver esta história. 

“Ângela é uma mulher forte, que conhece seus sentimentos e sabe o que quer, sem se importar com as convenções sociais ou com o que os outros esperam dela”, me disse minha amiga após me contar sua própria história. 

Acho sensacional que alguém possa ver a personagem de uma forma tão diferente de mim, Ângela, que eu quis sacudir, de quem eu esperei vingança, que desejei que encontrasse outro amor, de quem senti raiva pela "lerdeza" é vista por outra pessoa como uma mulher forte, que sabe o que quer e que consegue superar tudo, “com um sentimento esquisito, de que tudo foi um sonho!" 

Gosto especialmente de um trecho do poema, que se repete no livro e que compara o amor a uma doença “eu não tinha amor por ele, ao depois amor pegou”. Adoro isto de “pegar” amor, como se fosse uma doença contagiosa, transmitida de uma mulher para outra. 

Aliás, em vários momentos o amor é tratado como se fosse uma doença, da qual a única escapatória é o suicídio (Ulisses e Barbara tentam se suicidar, o pai de Ângela se suicida...), Ulisses, quando “pega” amor, se perde da família, fica transtornado; Ângela tem uma febre terçã, não come, não fala e só pensa na morte; também Bárbara se joga na correnteza, toma gasolina, roça a cara no chão. O amor é uma doença, cruel e dramática.

A história tem início e fim com o vestido, que em alguns momentos simboliza a própria união e desunião, ele é o presente que Ulisses dá a Ângela e que ela começa a sentir que “não era seu”, até que o dá à rival, como se entregasse o próprio marido. No fatídico dia, em que Ângela pede que Bárbara satisfaça Ulisses, esta veste nada menos que O Vestido finalmente, a devolução do vestido coincide com o retorno do homem ao lar. 

Em outros momentos o vestido continua sendo usado para simbolizar a mulher, os papéis de gênero, a sedução, as lembranças, até a própria traição “vestido já não há, nem nada”... 

É um livro sensacional, vale a pena lê-lo e construir sua própria viagem, imaginar: e se fosse eu, como eu faria? 

P.S. Me chama atenção um aspecto textual, o autor trabalha parágrafos longos, sem delimitação de parágrafo ou travessão, em capítulos curtos, isto é perfeito para o livro, já que nos dá o o ritmo, o tom certo da leitura.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Caso do Vestido - Carlos Drummond de Andrade

O VESTIDO - CARLOS HERCULANO LOPES

Esta semana escreverei sobre um dos  livros que mais me marcou até hoje: O Vestido, escrito pelo meu tio querido, Carlos Herculano  Lopes. Antes disto, porém, proponho que leiam o poema de Carlos Drummond Andrade, O Caso do Vestido, que inspirou e sintetiza o livro (grifei as partes que considero mais perturbadoras).

Agora proponho que  imagine, se tivesse que preencher as lacunas, se tivesse que dar detalhes a este enredo, criar uma história baseada no poema, como você faria? como seriam as personagens? O que levaria uma mulher a se humilhar perante outra, implorando-lhe que dormisse com seu marido? Como contar esta história às próprias filhas? Qual o significado deste vestido, porque ele tem tanta importância? (...)



Caso do Vestido
Carlos Drummond de Andrade


Nossa mãe, o que é aquele
vestido, naquele prego?

Minhas filhas, é o vestido
de uma dona que passou.

Passou quando, nossa mãe?
Era nossa conhecida?

Minhas filhas, boca presa.
Vosso pai evém chegando.

Nossa mãe, dizei depressa
que vestido é esse vestido.

Minhas filhas, mas o corpo
ficou frio e não o veste.

O vestido, nesse prego,
está morto, sossegado.

Nossa mãe, esse vestido
tanta renda, esse segredo!

Minhas filhas, escutai
palavras de minha boca.

Era uma dona de longe,
vosso pai enamorou-se.

E ficou tão transtornado,
se perdeu tanto de nós, 

se afastou de toda vida,
se fechou, se devorou,

chorou no prato de carne,
bebeu, brigou, me bateu,

me deixou com vosso berço,
foi para a dona de longe,

mas a dona não ligou.
Em vão o pai implorou.

Dava apólice, fazenda,
dava carro, dava ouro, 

beberia seu sobejo,
lamberia seu sapato.

Mas a dona nem ligou.
Então vosso pai, irado,

me pediu que lhe pedisse,
a essa dona tão perversa,

que tivesse paciência
e fosse dormir com ele...

Nossa mãe, por que chorais?
Nosso lenço vos cedemos.

Minhas filhas, vosso pai
chega ao pátio.  Disfarcemos.

Nossa mãe, não escutamos
pisar de pé no degrau.

Minhas filhas, procurei
aquela mulher do demo.

E lhe roguei que aplacasse
de meu marido a vontade.

Eu não amo teu marido,
me falou ela se rindo.

Mas posso ficar com ele
se a senhora fizer gosto,

só pra lhe satisfazer,
não por mim, não quero homem.

Olhei para vosso pai,
os olhos dele pediam.

Olhei para a dona ruim,
os olhos dela gozavam.

O seu vestido de renda,
de colo mui devassado, 

mais mostrava que escondia
as partes da pecadora.

Eu fiz meu pelo-sinal,
me curvei... disse que sim.

Sai pensando na morte,
mas a morte não chegava.

Andei pelas cinco ruas,
passei ponte, passei rio, 

visitei vossos parentes,
não comia, não falava,

tive uma febre terçã,
mas a morte não chegava.

Fiquei fora de perigo,
fiquei de cabeça branca,

perdi meus dentes, meus olhos,
costurei, lavei, fiz doce,

minhas mãos se escalavraram,
meus anéis se dispersaram,

minha corrente de ouro
pagou conta de farmácia.

Vosso pais sumiu no mundo.
O mundo é grande e pequeno.

Um dia a dona soberba
me aparece já sem nada,

pobre, desfeita, mofina,
com sua trouxa na mão.

Dona, me disse baixinho,
não te dou vosso marido,

que não sei onde ele anda.
Mas te dou este vestido, 

última peça de luxo
que guardei como lembrança

daquele dia de cobra,
da maior humilhação.

Eu não tinha amor por ele,
ao depois amor pegou.

Mas então ele enjoado
confessou que só gostava

de mim como eu era dantes.
Me joguei a suas plantas,

fiz toda sorte de dengo,
no chão rocei minha cara,

me puxei pelos cabelos,
me lancei na correnteza,

me cortei de canivete,
me atirei no sumidouro,

bebi fel e gasolina,
rezei duzentas novenas,

dona, de nada valeu:
vosso marido sumiu.

Aqui trago minha roupa
que recorda meu malfeito

de ofender dona casada
pisando no seu orgulho.

Recebei esse vestido
e me dai vosso perdão.

Olhei para a cara dela,
quede os olhos cintilantes?

quede graça de sorriso,
quede colo de camélia?

quede aquela cinturinha
delgada como jeitosa?

quede pezinhos calçados
com sandálias de cetim?

Olhei muito para ela,
boca não disse palavra.

Peguei o vestido, pus
nesse prego da parede.

Ela se foi de mansinho
e já na ponta da estrada

vosso pai aparecia.
Olhou pra mim em silêncio,

mal reparou no vestido
e disse apenas: — Mulher,

põe mais um prato na mesa.
Eu fiz, ele se assentou,

comeu, limpou o suor,
era sempre o mesmo homem,

comia meio de lado
e nem estava mais velho.

O barulho da comida
na boca, me acalentava,

me dava uma grande paz,
um sentimento esquisito

de que tudo foi um sonho,
vestido não há... nem nada.

Minhas filhas, eis que ouço
vosso pai subindo a escada.


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O Próximo Item da Lista - Jill Smolinski

Não sou muito fã de “chick lits”, mas confesso que eles têm seu lugar, servem para passar o tempo, ler sem pensar muito... No caso, o livro segue a fórmula do gênero,  é uma leitura fácil, gostosinha, destes que você lê em uma sentada.

Para mim, há dois tipos de literatura de “uma sentada”: um que de tão incrível, te deixa fascinado, preso, que você não quer parar de ler, precisa saber o que vem em seguida, mas os detalhes vão sendo revelados aos poucos... o outro  tipo não te exige nada, nenhum raciocínio, nenhuma atividade criativa, é só sentar e ler. “O Próximo Item da Lista” faz parte do segundo grupo.

A trama é interessante e promete uma história profunda e emocionante: June, oferece uma carona a uma moça que acabou de conhecer, porém, elas se envolvem um acidente e a moça falece deixando uma lista incompleta de “20 coisas para fazer antes do meu aniversário de 25 anos”.

Quando está juntando os pertences da moça para devolver à família, June encontra a tal lista e a retém sem saber ao certo o porquê. Como era de se esperar, a protagonista se sentindo culpada pela morte da jovem resolve realizar estes últimos desejos como uma forma de homenagear a falecida.

O livro se desenvolve em torno disto, mas é raso, superficial com relação a tudo que poderia abordar. Somos tirados da cena toda vez que a narrativa promete entrar em uma questão mais séria e o sofrimento e as questões por que imaginamos que a personagem passaria são vulgarizados e banalizados, deixando tudo muito fácil, muito óbvio.

Por outro lado, o tom da narrativa é gostoso, daqueles que o narrador onisciente te conta exatamente o que você quer saber (o que não deixa nem um espacinho para imaginação) e a leitura é envolvente, Tanto que, no final, eu mesma me peguei querendo desenvolver uma “lista de coisas para fazer antes do meu aniversário...”de trinta anos, porque vinte e cinco já foram...